sábado, 22 de agosto de 2009

Perguntas certas para a realidade em que vivemos


No palco, ares de lutas incansáveis, voz impostada e articulação nervosa. Na platéia, ouvidos atentos, olhos curiosos, perguntas à espera de respostas. Em debate, os desafios da cobertura jornalística sobre o meio ambiente na Amazônia.

Marina Silva visitou Belém essa semana e falou para uma pequena parcela de seus possíveis futuros eleitores sobre a necessidade de ressignificar a mídia de atualmente diante da inevitabilidade em tratar questões ambientais.

A senadora, que já foi ministra do meio ambiente, conceituou sustentabilidade ecológica e falou que a sustentabilidade também deve existir em caráter econômico, político, estético e cultural e lembrou que a questão está entre os temas estratégicos que devem ser colocados em debate, atualmente, no Brasil.

Marina destacou ainda que, em tempos de aquecimento global e outros grandes problemas ambientais que marcam a história de nossa geração, existe uma tedência equivocada de flexibilização da legislação voltada à preservação ecológica e exploração dos recursos naturais, que entra em conflito com as reais necessidades do planeta ao não buscar consonância com as metas mundiais de redução da poluição e destruição do meio ambiente.

A candidata presidenciável às eleições de 2010 pelo Partido Verde (PV) ressaltou que essa tendência pode se justificar por outro grande defeito brasileiro: a carência de valores éticos e morais duradouros entre as autoridades políticas do nosso país, uma vez que iniciativas como as açães voltadas para a sustentabilidade em todas as suas formas de aplicação deveriam advir naturalmente de um princípio ético da condição humana e não de uma palavra de ordem.

Para minimizar ou amenizar os problemas ambientais do planeta, a ex-ministra disse que é preciso atitudes generosas aliadas a um governo democrático e transparente, que estimule a sociedade a dar o melhor de si onde mais for necessário, como no caso da Amazônia.

Com um fôlego incansável, recordou do episódio de construção da Hidrelétrica de Belo Monte e de como os acontecimentos consequentes ocorreram conforme o previsto e que tudo poderia ter sido evitado se tivesse havido diálogo político e social. E, em meio a aplausos e gritinhos de "Marina Silva, presidente!", concluiu que não se pode sustentar uma governabilidade a qualquer custo.

Muitos brasileiros, hoje, vivem em uma situação que se pode denominar de analfabetismo ambiental ao não conhecerem as causas e as dimensões dos efeitos que podem ser gerados , por exemplo, pela "montanha" de lixo deixada na areia de uma praia após um fim de semana de julho. É aí que entra a grande missão do jornalismo ambiental, ramo do jornalismo científico, que tem como objetivo transformar o conhecimento "técnico" sobre a natureza o mais acessível possível a todo tipo de público.

O desafio para a ressignificação da mídia no tratamento desse tema, portanto, principalmente na Amazônia, passa não somente pela sensibilização do povo para que sejam mais solidários com as gerações futuras ou em trabalhar tecnologia para se ter o maior alcance e abrangência de recepção em regiões de largas extensões territoriais, como o Norte do Brasil, mas passa também pela dimensão do conhecimento.

Não temos na imprensa local jornalistas especializados para falar sobre meio ambiente ou sobre a Amazônia na própria Amazônia.

O que falta aos profissionais jornalistas de nosso país é o conhecimento sobre como fazer jornalismo ambiental nos mais diferentes cenários e saber fazer as perguntas certas para contemplar a diversa realidade brasileira na tentativa de levar ao povo a compreensão de que o homem só alcançará o verdadeiro sentido de sustentabilidade quando entender a Terra como um prolongamento do seu próprio corpo.

Para reflexão, fica um poema recitado por Marina:


Arco e Flecha

Do arco que empurra a flecha,
Quero a força que a dispara.
Da flecha que penetra o alvo
Quero a mira que o acerta.

Do alvo mirado
Quero o que o faz desejado.
Do desejo que busca o alvo
Quero o amor por razão.

Sendo assim não terei arma,
Só assim não farei a guerra.
E assim fará sentido
Meu passar por esta terra.

Sou o arco, sou a flecha,
Sou todo em metades,
Sou as partes que se mesclam
Nos propósitos e nas vontades.

Sou o arco por primeiro,
Sou a flecha por segundo,
Sou a flecha por primeiro,
Sou o arco por segundo.

Buscai o melhor de mim
E terás o melhor de mim.
Darei o melhor de mim
Onde precisar o mundo.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

E a coisa só faz piorar

Essa história do Edir Macedo...

A Globo, é claro, aproveita para resgatar algumas das ovelhas (leia-se audiência) perdidas para a TV Record.

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Saiba mais:

Bispo Edir Macedo é indiciado por lavagem de dinheiro
Altruísmo Empreendedor




terça-feira, 11 de agosto de 2009

Orgulho Nacional

Eu nunca fui muito fã de esportes. Desde criança, eu era daquele tipo de aluna que sempre arranjava uma desculpa para faltar as aulas de educação física: cólica, dor de cabeça, unha encravada... Não que eu seja sedentária. Gosto de me exercitar, mas não com espírito competitivo e com nada que me faça enfrentar pessoas maiores que eu ou objetos, como bolas, vindo em minha direção em alta velocidade. O máximo que fiz, na minha infância, foram alguns meses de natação, só que nunca cheguei a evoluir da piscina média para as raias olímpicas.

Durante muito tempo, por isso, me acostumei a assistir futebol ou qualquer outro jogo somente em época de copa ou olimpíadas (nem os Re x Pa paraenses chamam minha atenção), de modo que, faltando 10 minutos para acabar o Jornal Nacional, quando sempre entravam no ar as notícias do esporte, eu mudava de canal, pegava um livro ou procurava outra coisa pra fazer, pois isso queria dizer que tudo que poderia me interessar naquela edição já tinha sido exibido.

De umas semanas pra cá, no entanto, a cena mudou. Não sei se por uma estratégia para segurar a audiência ou se por uma mudança de julgamento na hora de avaliar e hierarquizar as informações mais importantes do dia, o JN tem trazido as notícias de esporte primeiro, por exemplo, do que as da de editoria de política, como hoje (edição do dia 11/08/09) em que a prata do vôlei masculino veio antes dos desdobramentos sobre o caso Sarney.

Lembro que, dia desses, eu que nem sou fã de esporte até me emocionei com uma matéria de destaque, no mesmo telejornal, sobre a vitória de César Cielo, "o novo imperador das águas", que entrou para a história da natação brasileira: "Este grande brasileiro agora pertence ao mundo. E graças a ele o mundo gosta um pouco mais do Brasil", disse a reportagem. O VT teve direito a cenas em câmera lenta, sobe som com o hino nacional e até homenagem com replay da competição que levou o nadador ao pódio.


Não querendo desmerecer as conquistas dos atletas brasileiros e tudo bem que as notícias sobre política, no nosso país, ultimamente, não têm merecido luzes de holofotes, só gostaria de chamar atenção para este pequeno detalhe de ordem que pode até parecer banal, mas que reflete um fundo de verdade no boato de que brasileiro só tem orgulho da pátria e amor nacional quando o assunto é carnaval ou esporte.

Não é para menos. Com tanta baixaria no Senado, realmente, o Brasil das medalhas de ouro e torcidas empolgadas é muito mais atrativo. Para o nosso time de senadores, que parece estar jogando contra, resta: o último bloco....

Uma boa noite para você!

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Breve instante de luz

Um dos filmes mais belos que assisti em uma das tardes desbotadas do último mês de julho foi "O Escafandro e a Borboleta" (Le Scaphandre et le Papillon/França 2007). Um filme que me fez pensar.

Sempre fui sacaneada pelos meus amigos por preferir os filmes das prateleiras de Oscar, Cult, Estrangeiros... enfim, sabe aqueles filmes que ninguém escolheria só pelo nome ou pela capa? Eu vou certeira neles. Não sei bem ao certo porquê. Não sou adepta das sessões de filme alemão, preto e branco e sem legenda: aqueles típicos cinéfilos com óculos de armação preta e que assistem ao filme coçando o queixo e acenos afirmativos de compreensão, como me acusam de ser. Não sou assim,. Apenas aprecio os filmes que trazem em seus roteiros mais do que explosões, carros de corrida, super heróis e os rostos bonitos de Hollywood.

"O Escafandro e a Borboleta" é um filme premiadíssimo, considerado cult, francês e baseado em uma história real. Calma, calma... É sério!! Apesar de ter todas as características que compõem o típico estereótipo das "películas" preferidas da turma dos pseudo-cults, o filme é realmente muito bom. Não tenho hábito de opinar sobre cinema aqui no blog (e isso está longe de ser uma crítica), mas não posso deixar de recomendar aos amantes da sétima arte que apreciem esse filme em particular, que é original do início ao fim. A começar pelo roteiro: imagine um ser humano prisioneiro de seu próprio corpo! Após sofrer um derrame cerebral, o personagem principal, Jean-Dominique Bauby, um editor de uma famosa revista francesa, fica paralisado dos pés a cabeça e só consegue mover o olho esquerdo, um caso raro da Síndrome do Encarceramento (Locked-in Syndrome).

Sim, o filme é uma lição de vida, um soco no estômago, uma história de superação... mas não cai no lugar comum. Inicialmente, Bauby se recusa a aceitar seu destino, no entanto, com o passar do tempo ele percebe que apesar de ter o corpo estático, sua memória e imaginação continuam em movimento e o leva a conhecer coisas, pessoas, sentimentos e lugares que jamais conheceria no estilo de vida e com os valores que prezava antes do fatídico dia em que perdeu-se dentro de si. Poético, não?! Tudo isso é contado por meio de um efeito de câmara subjetiva em que o espectador vê com os olhos do protagonista, enquadramento de cenas e edição de imagens impressionantes, além de um trilha sonora da melhor qualidade, é claro (adoro trilhas!).

Mais eis o que mais chamou minha atenção sobre o filme, tendo em mente que a história é verídica: Jean-Dominique Bauby viveu por um longo tempo sem nem ao menos poder falar, encerrado em um verdadeiro casulo. Para se comunicar, ele piscava o olho esquerdo uma vez para dizer "sim" e duas vezes para dizer "não" e, mais tarde, utilizou um alfabeto em ordem de pronúncia das letras. Ele piscava a cada som que lhe servisse, formando palavras letra por letra, sempre com a ajuda de intérpretes. De palavras, chega a frases e das frases aos parágrafos até ditar um livro inteiro: as suas memórias, que dão nome ao filme.


Imaginem! Escrever um livro com piscadelas! A capacidade de comunicação do ser humano nas mais impensáveis situações é realmente impressionante. Essa necessidade de se comunicar é tão intensa que, mesmo na solidão, o homem é impulsionado a exteriorizar divagações interiores, se não em voz alta, o que o levaria a falar consigo mesmo, escrevendo, o que lhe permite documentar suas reflexões e sensações. Hoje, as maneiras de “falar” ao outro são tantas, que não conseguimos imaginar o mundo sem a linguagem ou sem o texto literário, como forma de expressão da linguagem. Um dia desses, ainda haverei de me tornar borboleta e escrever meu livro. Enquanto isso, de post em post, já posso sentir o cheiro da liberdade que me trarão as asas.






Assista também:


Scoop - O grande furo (Sinopse / Trailler)

Desejo e Reparação (Sinopse / Trailler)

Juno (Sinopse / Trailler)

Good bye, Lenin (Sinopse / Trailler)

Persépolis (Sinopse / Trailler)

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Fim de férias

Uma tarde tediosa de domingo leva o ser humano aos extremos, ainda mais em fim de férias. Não aguentei a pressão das baladas de verão e decidi ficar em casa no último final de semana, principalmente porque já era agosto. O quente e supersticioso mês de agosto! Me despedi dos amigos que pegaram a estrada e me preparei para uma Belém deserta e silenciosa.

Aluguei filmes, abasteci a dispensa com "porcaritos" de todas as marcas e reuni todos os travesseiros da casa para fazer do meu universo particular o mais confortável possível. Infelizmente, não tinha filmes suficientes para todas as horas úteis do meu dia. Ainda assim, reli os livros da minha prateleira, folhiei as revistas velhas, ouvi todos os meus discos... E o tempo permanecia estático. Não se sente sono quando se precisa dele!

Muito calor. O sol ainda alto. Decidi sair e apreciar o domingo. Dei uma de paraense e fui tomar sorvete ao pôr-do-sol na Estação das Docas. Encontrei muitos visitantes e uma cena várias vezes repetida: fim de tarde à beira do Rio Guamá.

Sentei na orla me sentindo desconfortável por estar só entre tantos casais, famílias e grupos de turistas. Percebi, então, ao meu lado, um rapaz simpático, sozinho como eu. Caminhava em minha direção. "Oba! Companhia!", pensei. Ele parou e sorriu. Vi que olhava para um outro rapaz, atrás de mim, que se aproximou e ganhou dele um beijo na BOCA! Realmente, eu era a única panela sem tampa naquele lugar.

Decidi ir embora, mas parei em uma loja de departamentos no meio do caminho. Comecei pela seção de calçados. Experimentar sapatos extravagantes pode ser bastante divertido. Depois: perfumaria, confecções, lingerie, seção infantil, brinquedos, eletroeletrônicos e, quando estava em cama, mesa e banho, reparei que o segurança me olhava enquanto falava no walk talk. Eu já tinha percorrido todos os departamentos e estava usando uma bolsa bem grande... "Melhor não arriscar a minha sorte".

Me aproximei, então, da saída e, de repente, ouvi um vigoroso "Psiu!". Olhei para trás: o segurança. "PQP, era o que me faltava!". Mas, para meu alívio, ele só queria ligar a escada rolante antes que eu descesse os degraus. "Ufa!".

No caminho de volta, peguei o trânsito mais tranquilo do que em madrugada de segunda-feira. Por um breve instante, imaginei o movimento na Br-316 e senti inveja dos meus amigos veranistas. Encerrei o dia com x-burger, coca-cola e Fantástico... Típico domingo.

Enfim, o mês de agosto!

domingo, 2 de agosto de 2009

Meu amor não tem rosto

Cheguei em casa no início da tarde

como todos os dias

Com fome, almocei uma comida requentada

Subi as escadas, entrei no meu quarto

Fechei as cortinas e tudo escureceu em um tom escarlate

Olhei para o teto por uns quinze minutos

antes de adormecer

Foi a última vez que pensei nele


*****

Eu juro que tinha uma poesia na ponta da língua... Desculpem. Não deu pra segurar.